sábado, 13 de outubro de 2012

O amor é estranho

"Estranho isso das pessoas pensarem que eu sou forte e madura", pensei ouvindo-o falar, "minha vida sempre foi assim cheia de fortes emoções. Eu sempre tenho que saber de tudo que acontece ao meu redor e decidir o que fazer. Não há direito a ignorância?"
- Então, é isso. Seu irmão está roubando. Deve ser cleptomania, você acha que devemos contar para sua mãe? Ela pode morrer de desgosto!
"Cara!, o adulto é você. Decida! Por acaso está mais assustado que eu? Roubando? Qual é a do moleque? Quer acabar na cadeia aos 13 anos? Dá uma surra nele e deixe-o de castigo por 10 anos! Quem sabe aos 23 ele não vira gente.", foi o que eu pensei; mas, ao abrir a boca, o que saiu foi:
- Olha, esconder dos pais não é a melhor solução. Vamos sentar com ela, expor os fatos e decidir a melhor maneira de construir um melhor caráter no meu irmão. É um problema muito sério, mas há tempo de consertar.
Quando acho que vou desmoronar, é quando sou mais racional. Mesmo assim não gosto dessas situações extremas em que a vida sempre me colocou. Desde criança ter que ser adulta é um saco! E eu me pergunto "por quê? Por que elegeram à mim o adulto dessa história?"
...

A conversa com meu irmão não foi nada fácil. Ele negou, mentiu, não aceitou até que minha mãe o venceu pelo cansaço e pela sabedoria, e ele cedeu. Depois dela tentar achar a melhor maneira de enfrentar o problema, ela não se sentiu muito bem. Fomos para o hospital mais uma vez e não sei bem o que senti. Desgosto, raiva, tristeza. A vida assusta, é difícil viver. Quando você encontra situações como essa e não sabe como agir, não tem pra onde fugir, você se dá conta de que isso é viver. Olhar sempre para situações que não há a melhor maneira de sair, porque não se sai, não se esconde, não se foge. Apenas vive aquilo que um dia passa, ou não.
Já era tarde e minha mãe estava fraca, o médico achou melhor interná-la. Lá ficamos. Enquanto olhava-a as lágrimas doíam entaladas sem conseguir sair. Tão forte, tão frágil. Mulher guerreira, batalhadora, mãe. É estranho isso da sua felicidade ser totalmente ligada a uma pessoa. Em todas as boas lembranças, ela está lá. De uma forma ou de outra, ela está lá. Tão certo como a aurora, e tão linda quanto. E eu fiquei pensando sobre como nossa vida sempre foi sofrida e, contraditoriamente, feliz. Nunca deixamos de sorrir, dançar, cantar. Nunca desistimos de viver. Às vezes a gente passa a vida inteira romantizando os nossos sonhos, quando há romance por todo lado na nossa realidade. Minha vida não daria um conto de fadas, não passaria nem perto. Não mesmo! Mas daria um lindo romance. E eu tenho orgulho de quem sou e do que tenho. E quer saber? Não escolheria outra vida, nem mudaria nada dessa que tenho. Todas as desgraças são minhas, e todas as graças. É claro que enfrentar a doença do meu irmão não vai ser nada fácil, mas é estranho esse tal de amor. Você não ama alguém pelo que ele faz ou deixa de fazer, mas sim pelo que ele é. Tanto que meu amor pelo meu irmão não diminui nunca, nem quando ele apronta uma dessas. Se deixássemos de amar as pessoas pelo que elas fazem, não haveria amor. Todos nós temos as nossas doenças, se a cura fosse necessária para alcançar o amor, este não existiria. O amor não cresce ou diminui, ele simplesmente brota e fica lá eternamente puro e conservado. Por isso me pergunto "como direi um dia que amo um homem? será necessário casar e esperar a vida inteira pra saber se é amor ou paixão? como saber?". Vai saber! Estranho isso.
...

Depois da minha noite de insônia na cadeira mega confortável de um hospital, minha mãe acordou forte como um touro.
- Já passei por pior e não caí, não vai ser agora - disse radiante e decidida.
Dançamos cantando por aquele quarto de histórias tão tristes que logo se encheu da nossa alegria. Fomos para casa. E lá se foi mais um capítulo de nossas vidas. E lá se vinha outro...

Nenhum comentário: