terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sem lamento

Perco todo o meu tempo em pensamento
E ainda assim me vejo plena
Plenamente serena
Uma mulher pequena
Que não se arrepende
E que sempre pende para o lado do amor
Que acende, brilha, queima e não apaga
Que vem à alma e afaga o coração cheio de dor

Sou o sopro da flauta nada doce
Sou o lamento no "e se fosse"
Sou o ponto final que interpretastes mal
Na verdade, sou uma vírgula
E, algumas vezes, um pouco sem sal

Mas o que vem no vento é vida e não lamento
Apenas penso
E repenso
Mas não lamento
O que eu fui foi
O que eu sou é
E o que eu serei será

Até lá, tudo o que posso fazer é pensar
Penso, logo não lamento.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Não quero amar, mentindo

Mas que verdade pode haver em tuas palavras? Sabemos quantas vezes disse que me amava somente para não perder o momento magnífico que vinha dançando nos astros. E do que todas essas vezes adiantaram senão apenas para me fazer sorrir por uma mentira? E eu devia saber que era apenas mais uma outra mentira como a vida já está acostumada a esperar. Que verdade há nas palavras de um marinheiro? Marinheiro não é bom em casa, sabe apenas como se virar em mar agitado, em mar de tempestade. Por isso você me quis: por causa das minhas tempestades. Não me quis por mim mesma, nunca é esse o motivo.
Posto que já não quero mais amar assim, mentindo. Digo mais uma vez que estou partindo.
Pois a proposta da escrita era achar a minha faceta, ou pelo menos revelar todas que tenho. E posso não ter achado qual delas é a dominate em mim, mas a última já se revelou. Não vejo mais motivos para lhe escrever. Esta última é a que diz que já devo acreditar nas coisas que vejo, nas boas e nas ruins. E deixar as que eu não vejo - como o seu amor - para trás. Posso continuar sem saber para onde estou indo, mas agora eu vou.

Saudade

Mas se faltar destino para saudade tamanha agarra ela e dança, quem sabe eu esteja dançando também cá deste lado do mundo.

Mas aí você volta.

E como fica o meu coração mundano? Você sabe o que as pessoas sempre dirão sobre a nossa paixão. Mas...
Sim, eu te amo. Sem dor e sem pudor.
E sabe porquê? Porque quando você volta traz consigo as minhas dúvidas e as minhas certezas. Porque a paixão é movida pelas dúvidas e o amor pelas certezas. E eu, é claro, pelas contradições. E a vida pela busca incessante de um amor que queime de tanta saudade e que, ao mesmo tempo, conforte as desilusões desses tempos estranhos. E você, meu bem, é o conforto da minha alma. Porque você é muito mais que um homem, você é um poeta.

Poderia ser mais um amor perdido

poderia escrever sobre a perca de mais um amor, mas tenho em mente que é tempo de recomeçar.

Eu tenho tido a tendência de transformar, principalmente, os amores desamados nos protagonistas da minha poesia. E esquecer de si é um erro gritante demais para se permanecer nele. Como já foi colocado pelo meu querido Kundera, as pessoas têm o costume de achar bonito o sofrer. Vai entender o ser humano, néh, que com tanta vida bonita nesse mundo, acha belo justo o sofrimento. Não que o sofrimento não tenha sua beleza, mas não dá para alimentar a poesia apenas de tristezas.

Até porque eu sou uma dessas pessoas que não brilha na tristeza, não sou forte o suficiente para dizer "je ne regrette rien" assim como a linda Piaf. Pois me arrependo do que não fiz.

Sou uma pessoa que brilha no sorriso. Preciso de Sol, porque tempestades - como eu - só têm graça se houver a esperança de que logo o dia volta a brilhar. Preciso de embaraço, aprendi a conviver com ele graças aos meus cachos tão desgrenhados. Preciso embaraçar sonhos, mundos, pessoas. Embaraço tudo de modo que fica tão impossível de desembaraçar que acabam se tornando um só. Preciso comer vida, tenho fome; e preciso dá-la também, tenho o suficiente para alimentar uma multidão.

Então hoje eu digo:
Balayé les amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...


Tudo o que passou só existiu para trazer mais vida, pois cada vento que permitimos nos guiar nos leva a um novo lugar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Quanta vida enclausurada nesse mundo tempo"

"Destinada a caminhar os seus passados lentos", a chorar suas lágrimas aos ventos a correr seus tempos. Resta a fé num copo de café. Com reflexo vermelho no cabelo, seu destino chega como um erro. Destinada a carregar um certo medo. Essa é Ana, essa é A ana. Sente na veia seus mortos, carrega o dom de endireitar caminhos tortos. Mas não é leve, então a leve para passear. Ana está no ar, basta respirar.
"Ela foi um desacato", uma ofensa nascida de um mulato. Cresce como mato. Ana não precisa de cuidado, tem destino amargurado. Nasce pronta para o passado.