segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vamos conversar


E agora preste atenção porque eu só vou falar mais esta última vez:
Não acredite em mim. Não, não confie! Quantas vezes já lhe disse que eu não sou estável? Eu já parei de contar, não desperdiço mais tempo. Sabe como é: é pouca vida para quem tem tanta sede. Não dá para perder tempo com essas conversas amargas. Quer curtir, então vem. Agora se não quer, não me venha com esses inteiros de quem quer amar eternamente, porque eu cansei dessas mentiras. Não quero promessas, porque eu não sei amar mentindo. Não espere ouvir de mim "eu te amo", eu não vou dizer. Estou nessa terra para viver, o amor estar em algum outro lugar em que eu ainda não cheguei.
Vem conversar docemente comigo, tenho tentado ser sincera. Diga o que você tiver para dizer também, hoje nada me machuca. Não serei a menina chorando agarrada ao travesseiro no final da noite. Estou dançando no ritmo da música, então venha nessa sinfonia. A vida é curta, mas nós ainda somos jovens demais. Ainda há muito a viver.
Eu pensei muito desde o nosso quase fim, e todo o sofrimento que o medo de te perder causou me fez perceber que eu não te amo, eu só te quero ao meu lado. É cruel dizer isso assim sem meias palavras? Bom... desculpe, mas eu nunca disse que eu era boa. Nunca prometi dias calmos. Você sabe que eu sou uma tempestade, nunca escondi os meus trovões. E às vezes o amor só é bom quando dobra o barco em tormenta. A vida tem dessas coisas, há poetas que precisam de sofrimento para crescer. Então aproveite e cresça!
Comece o crescimento pelas palavras. Sabe, não é fácil adivinhar o que você pensa, então facilita as coisas: conversa comigo. Falar não é fraqueza, pelo contrário. Vem, fala comigo! Ou cai fora logo, porque é amargo demais essa conversa de mudos. Fale sem meias palavras, homem! Diga que eu sou louca, ou diga que me ama. Mas venha e diga!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Para Kerouac

Precisava ler-te para arrancar de dentro de mim algum fio de vida. É que tu me fazes sentir tão viva! Ler-te não é apenas esse verbo assim cru. É sentir-te, é desejar mais vida, é saber que sonhos podem ser reais, é querer ser iluminado por todos os astros que habitam a galáxia. Ler-te é deixar transformar da raiz do coração até a ponta do galho da vida. Ler-te é ver os olhos mudarem de cor, a pele encarnar o toque, a palavra brincar com os sentidos e se vestirem de qualquer interpretação que eu queira. Ler-te é ver-me de frente e do avesso, é ver minha nudez pura e sem vergonha, é sentir minhas entranhas se remexerem e minhas vísceras se tornarem borboletas. Ler-te é, não só ver você, mas toda uma época se materializar diante de meus olhos.
Ler-te é ver a feiura transformar-se em beleza, porque gosto tanto de você que, por uns instantes, quase chego a esquecer de que você é feio. Feio: carente, torto, confuso, covarde e egoísta. Mas mesmo assim, sua alma é tão grande e você é tão puro que até mesmo da sua feiura brota beleza. Ler-te é ver o improvável acontecer e o óbvio do ser humano saltar aos meus olhos. O que é incrível já que eu nunca enxergo o óbvio; eu o sinto, mas não o enxergo. Então quando você me mostra, ele salta a mim como um estalo: “ah! Então era isso que eu queria dizer a vida toda, mas não sabia como”. E tudo faz sentido.
Ler-te é duvidar da própria sanidade. É compreender e aceitar a própria loucura. Ler-te é aprender que o melhor edredom é o álcool, o melhor teto, as estrelas e o pior castigo é ser levado para o inferno pelas próprias ideologias. Ler-te é ver o tiro sair pela culatra. É ver a ideologia virar merda e a merda virar poesia.
Ler-te é saber que a vida não é grata, que nós não somos heróis, que a desgraça te engole se você assim permitir. Ler-te é saber que jazz é ar, que estrada não é caminho e sim a própria chegada e que a própria vida é melhor do que o romance. Ler-te é saber que amor não é nada mais do que uma perseguição através do tempo.