sábado, 13 de outubro de 2012

Dos sonhos


- Por que eu?
- O que? - ele retrucou preocupado como se tivesse perdido metade da conversa.
- Quer dizer, tem tanta gente nesse mundo. É estranho pensar que nos encontramos assim tão fácil, por um acaso. Porque eu sinto como se você fosse um pedaço meu perdido por aí que sempre existiu em mim, mas agora é palpável. Entende? Como é que aconteceu de duas almas se encontrarem tão perfeitamente?
Ele tirou os olhos do horizonte onde o céu se deitava nas montanhas, apertou minha mão e me olhou por um instante. Tanta paz, tanto amor. Como aquilo podia ser real? Meus olhos incrédulos ao cruzarem com os dele se faziam cheios de certeza de que nada poderia nos tirar um do outro. Éramos uma só alma, um só coração. Numa entrega natural. Sentíamos juntos, amávamos juntos. Tudo na mesma intensidade, numa sintonia sem igual.
- Como haveria de ser outra? Quem dividiria os sonhos comigo? Quem me faria essa explosão de sentimentos que só você me faz sentir?
- Isso não te assusta? Sei lá! Desde que te conheci, eu não consigo medir a minha entrega. Foge do meu controle te amar. Me assusta ser tão sua. Você me tem sem cobrar nada, sem pedir nada. Me dou quase que sem querer. E quando vejo, somos um. Aos poucos eu vou me construindo em ti e você em mim. Eu não seria a mesma sem ti. Nem lembro da minha vida sem você; porque, te conhecendo ou não, você sempre esteve aqui.
- Eu não sei como foi que aconteceu de sermos encaixes tão perfeitos. Mas agora que você está aqui, eu sei que nunca, nunca quero você longe. Tudo o que nossas almas construiram por si só é morada do nosso amor, é abrigo nosso. O que nos trouxe até aqui, as risadas, as lágrimas, as brigas, os desencontros, as fugidas, os medos vencidos e os que ainda persistem, tudo o que construiu isso que temos hoje - disse apertando ainda mais minha mão - serviu para me dar a certeza de que não há ninguém igual a ti. Ninguém me faria tão feliz, tão poeta bobo, tão vivo. Eu te amo! E tenho pensado bastante esses dias em todas as descrenças e mágoas que sumiram ao te conhecer e todas as certezas que brotaram. Não quero mais passar um dia sem você. - Ele se sentou, pegou um passarinho de origame do bolso e me estendeu - Se você aceitar, nós podemos oficializar o que já é real desde que nascemos; porque, se casar é se tornar um só, já o somos desde que chegamos a esse mundo. Esse é o milésimo.
Ele colocou o passarinho em minha mão fazendo cair dele um anel de noivado, o mais lindo que já vi. Meu coração acelerou, corei. Não sabia o que pensar. A vida toda em pesadelos, devaneios e medos de compromisso, mas com ele não. Era impossível temer, impossível fugir de algo maior, mais profundo. Nos pertencíamos, era a minha hora de assumir a tutela da minha existência, de dizer ao medo que ele não domina mais.
Ele continuou:
- Pra sempre um só?
Minha mente ficou um branco sem fim. De repente veio uma cena: eu deitada no tapete da sala branca, clara, num fim de tarde cantando um velho blues e ele tocando o piano ao meu lado. E assim seriam todos os dias, mesmo quando os ventos fortes soprassem, nós estaríamos ali no fim do dia. Juntos para sempre.
- Sim! - dei um pulo em cima dele caindo deitada face a face, sorri um sorriso de menina boba, sem acreditar que aquilo era real - Sim, sim, sim!

Um comentário:

Carolina Coelho disse...

Você SEMPRE consegue escrever tudo que esta se passando no meu coração..COMO PODE?! *-*
eu AMO seus textos keba :')