Eu devia ter colocado data na primeira carta
que te mandei, sinto falta agora de saber quanto tempo faz que tudo aconteceu. Parece
que foi ontem, mas já passaram quantos dias, meses? Bom, mas o que importa
agora é o tempo em que estamos.
Continuo sendo sincera contigo. Talvez esse seja o único ponto do qual posso me orgulhar: o de nunca ter mentido. Ou talvez não, talvez eu deva me orgulhar
também de não ter me envolvido. Porque, sabe, pela primeira vez eu não deixei
de me envolver por medo, mas por convicção de que não era o momento e o motivo
correto.
Pelo menos agora te escrevo quase que o
contrário de antes. Não faço mal às pessoas a minha volta, pelo contrário,
me tornei alimento leve para a alma de cada uma delas. Não sou mais instável,
não tenho sentimentos venenosos. Sou certa, falo a coisa certa no momento
certo. Talvez eu ainda seja um pouco confusa, um pouco. Mas tudo tem se esclarecido na velocidade certa. Caminho para ser certezas e não mais dúvidas,
embora nunca deixarei de tê-las. Repare que estou falando sobre ser e não ter. Ainda tenho minhas dúvidas, mas agora são apenas
questionamentos construtivos e não destrutivos.
Mas nada disso é importante, porque –
como eu disse – você prosseguiu bem melhor, não lembra da dor como algo ruim, mas
sim como aprendizado, não é? Pelo menos, agora, teremos isso em comum. Algum
dia poderemos nos encontrar e contar nossos descasos de amor, compartilhar
confidências, amadurecimentos e durezas construídas no coração. Concluindo que,
nem sempre, um coração duro é sinônimo de maldade; mas, às vezes, de
maturidade. E que, nem sempre, um descaso de amor é menos doce do que um caso de
amor. Às vezes, eles são bem mais doces.