sexta-feira, 15 de julho de 2011

Nas veias do mundo

Cherry,

te escrevo pela vontade enorme de te ver que está aqui apertando o meu peito desde ontem, quando você levantou da cama. Desde aquele momento sei que não te vi mais, já estava diferente, já era outro. Sempre que me acostumo à ti, você vem de novo com esses seus giros mundanos. Revisando todos os seus passos, o beijo que me deu na testa, a maneira como olhou pela janela respirando fundo o ar da estrada vermelha que te levaria mais uma vez em minutos para bem longe de mim, tuas costas pela fresta da porta se virando de quando em vez para me olhar e a tua ternura me dando adeus... me doeu. Não é que eu duvide desse romance Sartre-Simone que nós temos, é só que eu sinto falta da certeza. E não é daquela da qual falamos no dia em que nos vimos pela primeira vez, aquela que eles precisam sentir. A certeza de ter, a certeza da rotina. Não, não é dessa que eu falo, essa concordamos que nunca teríamos. Mas falo sobre a certeza da liberdade. É que eu tenho me sentido sempre presa à essa vontade de te ver. Cada vez que você parte leva minhas asas na bagagem.
Tudo o que fica é essa saudade doída, esse vontade de você desmedida, essa cama vazia nessa madrugada mendigante que clama por você. E então passo as horas resgatando sua voz eternizada na minha memória dizendo repetidamente que me ama e, então, a dor diminui. Mas a saudade não. E continuo as horas seguintes com as lembranças dos encontros por entre as pilastras de um bloco qualquer, das conversas antropológicas, do compartilhamento literato e, claro, das caminhadas de pôr-se-sol ouvindo Wilco prometendo simplicidade, verdade e Vida. E aí eu lembro que antes de você eu não era nem metade dos versos da poesia que carrego hoje comigo, e de que antes do nosso encontro estávamos fadados a padecer eternamente no desespero de não saber amar e ser amado.

Um comentário:

Maieh disse...

'antes do nosso encontro estávamos fadados a padecer eternamente no desespero de não saber amar e ser amado'

Lindo!! muito.